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Vocês já jogaram SimCity?

Certamente refiz essa pergunta mais de mil vezes nos últimos três anos. Para completar a milésima primeira vez, pergunto se você já jogou. Não? Bem, esse jogo eletrônico de simulação surgido na década de 1980 tem um objetivo básico: administrar bem os recursos de uma cidade e melhorar seus indicadores.

Volto um pouco no tempo.

Minha formação é o Direito e a Comunicação Social. Sou advogado, sou jornalista, sou publicitário… Administração Pública não estudei (ainda). Eu e a maior parte dos cidadãos deste país. Ainda assim, esse tema é extremamente importante para todos nós.

Em 2011, fiquei extremamente honrado ao ser convidado pelo Governador Antonio Anastasia para ocupar o recém criado cargo de Subsecretário de Juventude do Governo do Estado de Minas Gerais. Aos 24 anos, a honra era tão grande quanto a preocupação. Ser responsável por todos os mineiros de 15 a 29 anos? Conduzir a política pública que impacta na vida de um quarto de todos os habitantes do Estado? Não se trata de tarefa fácil.

PROMOVER O PROTAGONISMO. Essa foi a missão conferida.

O objetivo estava posto. Abrevio o raciocínio para dizer a conclusão: Protagonismo não é algo que brota de ações do governo. Essa característica emana das pessoas. E existem condições para que emanem mais ou menos. Ao diminuir a vulnerabilidade social na qual se desenvolve um cidadão, aumentam as chances de que advenham indivíduos protagonistas.

Matemática: quanto mais vulnerabilidade, menos protagonismo. Quanto menos vulnerabilidade, mais protagonismo. Ótimo! A missão, portanto, era outra…

E disso adveio a pergunta: quais são os fatores que impactam na vida de um jovem e que constituem uma vulnerabilidade social? Não poderia responder isso sozinho. O Professor Cláudio Beato, do CRISP da UFMG, e a Professora Marilena Chaves, da Fundação João Pinheiro, foram dois fundamentais apoios nessa construção.

Desenvolvido o Índice de Vulnerabilidade Juvenil, notei que eram inúmeros os fatores que se intercalavam. O analfabetismo, a criminalidade, a pobreza… A percepção mais prática desse desafio na minha vida era um jogo de computador: o SimCity. Quando o prefeito observava o jogo, conseguia discernir as partes da cidade através dos indicadores… O desafio era justamente escolher onde o dinheiro disponível recolhido dos impostos deveria ser aplicado para fazer a cidade se desenvolver. Um erro era fatal no jogo. O desperdício atrasava o avanço da cidade assim como a má escolha de prioridades. Aprendi que a análise dos mapas era fundamental.

Existia no jogo um indicador do analfabetismo. No IVJ também. Existia no jogo um indicador de violência. No IVJ também. Existia no jogo um indicador de pobreza. No IVJ também. E quando no jogo todos esses indicadores se misturavam, formava-se o Índice de Felicidade. Sem pobreza, sem violência, sem analfabetismo, dentre outros, os cidadãos do jogo eram felizes… Na analogia com a juventude, sem as vulnerabilidades supracitadas, dentre outras, podemos ter jovens mais protagonistas.

Com essa quantidade de dados organizados, o próximo passo era organizar de uma forma que todo cidadão pudesse entender. Eu, inclusive, que nunca falei a língua da Administração Pública. E desenhamos. Colorimos mapas. Ao comparar os três prismas de evolução 2000/2010 do IVJ, os desafios ficaram ainda mais claros. Entre a cor verde e a cor vermelha, ficava evidente para onde o recurso público deveria ser direcionado!

E de que forma o recurso público deveria ser relacionado?

A próxima pergunta foi: quais são os programas direcionados para a juventude no governo, quanto eles custam e em que locais eles ocorrem? Começou uma odisséia. Uma aventura pela Administração Pública! Os gestores que lêem esse texto entendem bem o que estou dizendo… Resumo essa parte dizendo o seguinte: foi muito trabalhoso identificar, organizar e reordenar cerca de oito dezenas de iniciativas. E esse trabalho não acabou!

Durante esse período de trabalho, ocorreram inúmeras reuniões! Vinham pessoas de todos os municípios. E, claro, queriam saber quais eram os programas para cada cidade… O processo de reunir as ações tinha de ser redividido por 853 cidades. Coordenar todos os responsáveis em 23 Secretarias de Estado do governo do segundo Estado mais populoso do Brasil com mais milhares de servidores públicos começou a parecer um trabalho hercúleo demais…

Persistência.

Além do Índice de Vulnerabilidade Juvenil, das 82 ações de políticas públicas de juventude reunidas, de 853 municípios como critério de organização, faltava ainda sistematizar a participação da sociedade pelos conselhos e pelas conferências.

Haja trabalho!

Isso tudo foi feito com uma equipe que enfrentou todos os tipos de desafios. Desde mentalidades antigas que pensam que o governo deve ser repartido por partidos aliados até por visões ultrapassadas que consideram a transparência de dados um luxo que não precisa ocorrer… Vencemos tudo isso. Não há governos perfeitos, mas existem governos onde a vontade de servir a população supera o sistema de conveniências que porventura macula a administração pública. Minas Gerais é um exemplo desse tipo de gestão.

Todo esse longo processo não é mera história. Existem dois decretos fundamentais: 45.665, de 1º de agosto de 2011, e 45.783, de 28 de novembro de 2011. Esse sistema complexo se transformou numa política de Estado. Não é mera ação de governo. O primeiro decreto sistematiza todo o processo a que chamamos Observatório da Juventude. Para o cidadão pode ser apenas um site simples e repleto de interface, onde ele acessa todas as ações que existem em sua cidade, alem de conferir os avanços dos índices referentes à juventude. Para o governo, trata-se de uma bússola, de uma carta de navegação, de um instrumental que garante que o dinheiro público seja bem utilizado. O segundo decreto cria o mecanismo que tira dos dados a prática. O Comitê Intersetorial de Políticas Públicas de Juventude é o time de servidores públicos que analisa todo o cenário e faz com que o dinheiro dos impostos vá para onde deve ir. O governo é um só. A política de juventude não deve se repartir em várias secretarias… Deve ser integrada.

O Observatório da Juventude é uma ferramenta com três funções principais: cidadania, gestão e coordenação. É a própria evolução da accountbility para a publicidade.

E você já jogou SimCity? Se não jogou, jogue! Verá que, sem os indicadores, construir a cidade não fará sentido! Afinal de contas, governar é mais que construir estradas. O ex-presidente Washington Luiz que me perdoe. Quando eu conto esse processo para as pessoas, e eu contei muitas vezes, os que melhor entendem são os mais jovens. Muitos deles me fazem uma pergunta inocente, mas repleta de verdade: não era assim? Como faziam antes então? A outra pergunta é a seguinte: mas todos os governos não funcionam desse jeito?

Aliar metas com tecnologia. Somar interface com cidadania. Colocar quatro botões num site como portas de entrada para um governo que se pretende traduzido para qualquer um. Esse é o nosso compromisso.

O Observatório da Juventude é uma ferramenta transparente. Que auxilie o governo e que auxilie os cidadãos. Na Fundação João Pinheiro, é uma sala de estudos permanente para garantir inovação nessa temática. No Comitê Intersetorial de Políticas Públicas de Juventude, é um enlace que une o governo e gera sinergia. Na Subsecretaria de Juventude, é início, meio e fim. Na tela do seu computador, será o que você quiser. Ajude a fazer diferença. Minas Gerais e as juventudes dessa e de outras gerações ficarão agradecidas.

Gabriel Azevedo
Subsecretário da Juventude