BLOG

Vidas Perdidas e Racismo no Brasil: Pense nisso.

Hoje (quarta-feira, 20 de novembro) é o Dia da Consciência Negra e esse é um momento que marca a resistência do povo afrodescendente e a sua luta pela conquista de direitos e igualdade de oportunidades dentro da sociedade.

Bem na véspera de uma data tão importante como essa, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA divulgou o resultado de um trabalho que mostra que infelizmente (e bota infelizmente nisso) a discriminação ainda tira o sono de muita gente e traz consequências muito mais sérias do que a maior parte das pessoas imagina. E com razão.

A Nota Técnica Vidas Perdidas e Racismo no Brasil apresenta um estudo sobre a violência contra os negros no país e conta com informações separadas por estado, baseadas em dados econômicos, demográficos e, como o próprio nome já diz, leva em conta também a questão do racismo.

Essa pesquisa foi feita pelo diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e Democracia (Ipea), Daniel Cerqueira, e por Rodrigo Leandro de Moura, da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV). Ela tem dois objetivos: O primeiro é analisar a quantidade de mortes violentas de negros e não negros registrada em cada estado brasileiro. Em particular, o estudo também fala sobre a perda de expectativa de vida ao nascer por causa das várias formas de violência.

O segundo é testar até que ponto o contraste entre os números desses grupos pode ser causado por questões que vão além das diferenças econômicas. Segundo os autores, o componente de racismo não pode ser rejeitado para explicar o diferencial de vitimização por homicídios entre homens negros e não negros no país.

Na Nota Técnica as informações são claras e diretas. Para cada homicídio de não negro no Brasil, 2,4 negros são assassinados, em média. Se a gente levar em conta todas as violências letais, ou seja, os homicídios, os suicídios e os acidentes, os homens de cor negra são os que perdem mais expectativa de vida: 3,5 anos de vida, contra 2,57 dos homens de outra cor/raça. Essa diferença é bem maior se só os homicídios forem considerados: Enquanto o homem negro perde 1,73 ano de expectativa de vida quando nasce, o homem que não é negro perde 0,81.

Vale dizer que os estados que tiveram os piores resultados foram Alagoas, Espírito Santo e Paraíba e o mais interessante desse trabalho é que, dessa vez, mais uma pesada herança dos afrodescendentes no Brasil foi levada em conta. Ela mostra que o negro é duplamente discriminado por aqui. Por sua situação socioeconômica e pela cor da sua pele.

A combinação dessas discriminações explica o resultado da pesquisa que termina assim e não deixa dúvidas:

Levando em conta os elementos discutidos neste artigo, percebe-se a enorme dívida que a sociedade brasileira tem em relação a uma parcela de sua população, os afrodescendentes. Os resultados trazem à tona uma grande ferida aberta desde a abolição da escravatura, ainda não fechada nos dias atuais.

Parte da elite branca se esquiva em perceber o racismo ainda muito prevalente no país e, sobretudo, o racismo que mata. Confunde-se segregação racial com racismo – o primeiro é um caso particular do segundo. Mas os números são evidentes. Segundo nossos cálculos, mais de 39 mil pessoas negras são assassinadas todos os anos no Brasil, contra 16 mil indivíduos de todas as outras “raças”.

Para além da extinção física, há milhares de mortes simbólicas por trás das perdas de oportunidades e de crescimento pessoal que muitos indivíduos sofrem, apenas pela sua cor de pele. São vidas perdidas em face do racismo no Brasil.

Bom, pelo visto não foi por acaso (não mesmo!) que a questão da violência contra o povo afrodescendente fez parte das discussões da 3ª Conferência Estadual de Juventude, que rolou este mês em Araxá. A proposta específica do eixo Segurança foi justamente criar política de combate ao extermínio da juventude negra.

Além disso, o Governo de Minas já coloca em prática uma ação super importante voltada para essa questão. É o Programa de Controle de Homicídios Fica Vivo que, aliás, nessa semana conquistou reconhecimento do Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento – PNUD e foi considerado um exemplo de prevenção à criminalidade.

É o jovem mostrando que está de olho no que anda acontecendo e ajudando o governo a criar políticas públicas ainda mais certeiras.